
É adaptação do romance de Lourenço Mutarelli, quadrinista e escritor que a Editora Devir sempre fortaleceu (como os leitores de GURPS sabem muito bem!), dotado de uma narrativa afiada e um traço único- bem sujo, caricatural e doentio.
O filme trata de Lourenço (pois é - interpretado por Selton Mello, grande responsável pela realização do flilme, a propósito), proprietário de um armazém onde compra todo tipo de objeto de desesperados, junkies, gente sem esperança e infelizes de modo geral.
O tal cheiro que dá nome ao filme vem do banheiro nos fundos do salão onde recebe seus vendedores, e Lourenço sempre explica que não, o fedor não vem dele, e sim do ralo entupido.
O ritmo do filme é ótimo, seguindo a narrativa seca e direta do livro, dividindo-se nos encontros com as pessoas que vêem a procura de grana, a busca do protagonista para ter para si a bunda da atendente de uma lanchonete (e que ilustra esse post) e sua relação metafísica com o ralo, que une tudo num ciclo de sujeira- muito mais metafórica que sensorial, na verdade.
O Cheiro do Ralo é um filme sobre a decadência, a corrupção e a maldade- ainda assim, é um filme de humor negro, com Selton Mello brilhante no papel.
Lourenço é misógeno, cruel e escroto- mas graças a suas tiradas engraçadíssimas, é também apaixonante. É uma história de literatura marginal, com personagens sujos e urbanos, lado a lado com o excelente trabalho do igualmente paulistano Ferréz (ao qual o livro é dedicado, aliás).
A estética do filme é linda, abusando dos galpões, grapixos e lugares abandonados de São Paulo (Aclimação?). Destaque também para Lourenço Mutarelli no papel de capanga de seu personagem-homônimo, e para a trilha sonora, melancólica e muito adequada, que pode ser conferida no site do filme.
2 comentários:
Achei a coisa muito mais pra um "humor negro". Adorei o filme.
Achei o filme excelente, com algumas das melhores tiradas que já vi no cinema nacional. Vou catar a trilha agora!
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