segunda-feira, 7 de maio de 2007

Eu só posso acreditar em um deus que saiba dançar

Só a produção de O Cheiro do Ralo já merece respeito: sem investimentos, o filme só saiu graças a muita vontade e dedicação de seus produtores, que investiram pouco mais de 300 mil reais para realizar um filme originalmente orçado em 2,5 milhões, mostrando que no cenário mercenário do cinema nacional, onde impera a lógica dos agrados e da esmola federal existe gente habilidosa na arte do foda-se.



É adaptação do romance de Lourenço Mutarelli, quadrinista e escritor que a Editora Devir sempre fortaleceu (como os leitores de GURPS sabem muito bem!), dotado de uma narrativa afiada e um traço único- bem sujo, caricatural e doentio.

O filme trata de Lourenço (pois é - interpretado por Selton Mello, grande responsável pela realização do flilme, a propósito), proprietário de um armazém onde compra todo tipo de objeto de desesperados, junkies, gente sem esperança e infelizes de modo geral.
O tal cheiro que dá nome ao filme vem do banheiro nos fundos do salão onde recebe seus vendedores, e Lourenço sempre explica que não, o fedor não vem dele, e sim do ralo entupido.

O ritmo do filme é ótimo, seguindo a narrativa seca e direta do livro, dividindo-se nos encontros com as pessoas que vêem a procura de grana, a busca do protagonista para ter para si a bunda da atendente de uma lanchonete (e que ilustra esse post) e sua relação metafísica com o ralo, que une tudo num ciclo de sujeira- muito mais metafórica que sensorial, na verdade.
O Cheiro do Ralo é um filme sobre a decadência, a corrupção e a maldade- ainda assim, é um filme de humor negro, com Selton Mello brilhante no papel.
Lourenço é misógeno, cruel e escroto- mas graças a suas tiradas engraçadíssimas, é também apaixonante. É uma história de literatura marginal, com personagens sujos e urbanos, lado a lado com o excelente trabalho do igualmente paulistano Ferréz (ao qual o livro é dedicado, aliás).

A estética do filme é linda, abusando dos galpões, grapixos e lugares abandonados de São Paulo (Aclimação?). Destaque também para Lourenço Mutarelli no papel de capanga de seu personagem-homônimo, e para a trilha sonora, melancólica e muito adequada, que pode ser conferida no site do filme.

2 comentários:

Barba disse...

Achei a coisa muito mais pra um "humor negro". Adorei o filme.

Rocha disse...

Achei o filme excelente, com algumas das melhores tiradas que já vi no cinema nacional. Vou catar a trilha agora!