segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Drinking black coffee

Por um ou dois anos vi "Black Flag" nas prateleiras de livrarias, mas nunca arrisquei comprar o livro, até duas semanas atrás, quando fui comprar o novo do Palahniuk e depois de dar uma folheada mais atenta, achei a idéia interessante.

A verdade é que embora não tenha exatamente uma conexão real (mas não duvidaria se ela de fato existir), associei o livro ao genial coletivo Luther Blisset/Wu Ming, talvez por ser escrito por um italiano de esquerda, levar o nome de uma das minhas bandas favoritas e ter sido publicado pela Conrad. Em uma rápida pesquisa no Wiki, vi que o autor, Valerio Evangelisti é um ícone da fantasia/sci-fi na Itália, e que tem uma série famosa chamada "O Inquisidor" que também teve um volume publicado no Brasil. Vou procurar melhor.

O livro já começa bem, com uma quote de George W. Bush e uma descrição do que parece ser o ataque ao World Trade Center- para se revelar algumas páginas depois como sendo a invasão dos EUA ao Panamá no fim dos anos 80 coordenada por Bush-pai . A partir dai, a história se divide em três linhas: um hospital psiquiátrico no Panamá, que esconde soldados de elite dos EUA com uma doença mental, utilizados como armas de guerra na invasão; a história de Pantera, um feiticeiro mexicano em um grupo de mercenários sanguinários nas Border Wars do Velho Oeste americano; e 'Paradice', a porção de ficção científica da trama, que relata um futuro desolador, em 2999, onde em uma Terra superpovoada as pessoas são divididas em castas sociais de acordo com pertubações mentais, e a contagem de tempo é medida através dos "Relâmpagos": tratamentos de eletrochoques globais lançados por cientistas que escaparam e vivem na Lua.

A parte de western é a mais trabalhada do livro, flertando com o horror, a fantasia e a pseudociência vitoriana. No grupo de mercenários e bandoleiros há um lobisomem, o bruxo pistoleiro protagonista e um cientista fantástico. Ainda assim, nesse circo de horrores, são os humanos normais os responsáveis pelas maiores atrocidades. Roberto de Sousa Causo, em sua resenha ao Terra Magazine aponta o cientista como um porta voz de uma visão social hobbesiana, que impera no livro- nas três histórias, o homem é mesmo lobo do homem (aliás, a iconografia do lobo sempre presente). Vou um pouco além, e vejo nele algumas referências ao satanismo de La Vey.

Entre as três tramas, a idéia de violência e colisão está no centro, assim como o questionamento das desordens mentais (em particular a esquizofrenia, presente em personagens de todas as linhas): elas eclodem do meio ou são de natureza biológica? Há um ponto de ligação, na figura do ouro como ingrediente de medicamentos. Composto alquímico ministrado ao lobisomem, "cápsulas da violência" na Terra pós-apocalíptica, parte da fórmula do remédio dado aos soldados presos no Panamá.

A narrativa não é genial, mas a leitura é altamente recomendada para qualquer um que goste de fantasia, horror, sci-fi e política. Aliás, Black Flag é uma prova que essa união é possível, sem ser panfletário ou pedante em excesso.

Alguém leu? Tem alguns pontos que queria discutir.

3 comentários:

Otávio Rangel disse...

Vc podia me emprestar esse livro em. hehehe
Abraço!

Alexei Fausto disse...

faço minhas as palavras do otávio, aí poderíamos discutir os pontos.

Barba disse...

Luther Blisset não é lá muito panfletário também. Só tem a narrativa mais fragmentada do mundo... Já viu o texto deles falando sobre RPG, né?