segunda-feira, 19 de março de 2007

I´m wasted, but I´m ready



Desisti do "Diário". Algum leitor de BH quer emprestado? Quem sabe se alguém ler primeiro eu me sinta um pouco motivado para terminar...

Por outro lado, no mood do "I´m wasted, but I´m ready" retomei a leitura do "A Game of Thrones".

Tenho muita preguiça de livros/filmes/quadrinhos e afins que são vendidos como sendo para "adultos". Mature readers é a terminologia que pega, esse tipo de definição "adulta" costuma ser desculpa para roteiros esburacados, com alguma putaria e violência gratuita substituíndo as boas idéias. Então depois de um hype ao redor do livro em uma lista que frequento, em que inclusive meu amigo Doutor Careca definiu como sendo "fantasia para gente grande", decidi dar uma chance ao George R.R Martin e comprar o primeiro volume da série, um monstro laranja em formato de pocket, com 835 páginas.

Como bom mineiro, sou conservador e tradicionalista: adoro fantasia com magia, dragões, elfos e afins. A Game of Thrones não tem nada disso. Na verdade, desconfio que mais cedo ou mais tarde vão aparecer alguns dragões, mas até agora, a dimensão deles na trama é muito mais metafórica.

Ainda assim, o livro pode ser definido como fantástico, e o ponto que justamente me atraiu nele é abordar um mundo de fantasia sob uma ótica realista no que tange principalmente a construção dos personagens. Eles são questionáveis, falhos e vingativos. Mas também são corajosos, apaixonados e honrados. É muito diferente da literatura fantástica que já havia tido contato antes, em que os personagens (ou melhor: heróis e vilões) são exageradamente maniqueístas, homoeróticos ou simplesmente bobos no background de "anti-herói" (como o clássico Drizzt Do´Urden, o elfo negro bomzinho de Forgotten Realms). É verdade que ainda existem alguns personagens que gritam "vilão!" na trama, mas a área cinza existente é confortavelmente ampla.

A própria história recente do continente principal em que a trama se passa foge dos clichês tradicionais de heroísmo: os protagonistas, nobres oriundos de casas antigas, incestuosas e poderosas, destronaram o velho rei em uma guerra civil sangrenta, onde a família real foi quase toda chacinada.

A narrativa do R.R Martin é excelente, e embora o início (que infelizmente ocupa uma centena de páginas) seja lento, quando a história pega ritmo, ela avança incrivelmente bem, com reviravoltas constantes e muitas surpresas.

É altamente recomendado para quem gosta de histórias de fantasia, mas está disposto a fugir das fórmulas e modelos consagrados.



Outro livro que segue a mesma vertente de abordagem fantástica é O Inimigo do Mundo, do amigo Leonel Caldela, e editado pelo Doutor Careca citado acima e publicado pela Jambô Editora.

Primeiro romance de Tormenta, o que chega a ter lá sua dose de ironia, já que antes dele o cenário gerou a bem sucedida, divertida e leve série em mangá Holy Avenger, O Inimigo do Mundo explora o surgimento da grande ameaça extraplanar que dá nome ao cenário, uma trama de grande responsabilidade para o autor, e que já mostra que o livro não será nem de longe simpático e colorido como o mangá foi.

A história é muito boa, e não é necessário que o leitor esteja familiarizado com Tormenta ou mesmo RPG, bastando gostar de fantasia.

O ponto forte do livro porém não é nem mesmo sua história, mas os personagens que protagonizam a trama: a construção dos mesmos é muito interessante e nada babaca, e a maneira em que o grupo de aventureiros se relaciona é muito bem desenvolvida, até mesmo inspiradora para um eventual leitor RPGista.

O romance trabalha com uma carga dramática forte, e já adianto, não possui um final feliz.

É um pouco mórbida a maneira em que o grupo de aventureiros é torturado, mutilado e finalmente sacrificado ao longo da trama, mas Leonel toma suas decisões com seriedade, sem querer chocar gratuitamente o leitor. Ainda assim, em alguns momentos o livro é muito bad trip, o que lá pelas tantas me cansou. Definitivamente não é uma leitura leve, não estamos falando de hobbits fumadores de cachimbos em rolês alegres e abicholados por campos ou sertões.

Não tenho essa mentalidade jeca e cretina de não sentar o cacete em algo ruim feito no Brasil simplesmente "porque é nacional", "para não fragilizar o mercado". Ora, se a cena nacional de RPG/fantasia se mostrar incapaz de produzir material de qualidade, a implosão vai ser o único caminho. Felizmente, existem boas surpresas como O Inimigo do Mundo, que mostram que estamos avançando muito bem.

Altamente recomendado!

4 comentários:

Unknown disse...

poxa, eu aceito o desafío do "diário" mas tenho que acabar O nome da rosa antes, então, quando acabar, se ninguém o tiver pego, eu encaro!

Alexei Fausto disse...

pô foi mal, na vberdade o comentário aí de sima é meu, não vi que tava logado como o meu irmão.

Alexei Fausto disse...

nossa mãe, é em cima, puts, ontem tava difícil escrever mesmo...

Rocha disse...

Eu quero é o Black Flag!