terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Sell out, maintain the interest




Antes de tudo, não morro de amores pela Sofia Coppola. Associo ela ao fantasma do Poderoso Chefão Parte III, não assisti o "Virgens Suicidas" e não gosto do "Encontros e Desencontros". Também não assisti o curta de estréia dela, "Lick the Star", mas ele está disponível no Youtube, dividido em parte I e parte II, para os interessados. Na verdade, de tudo que ela já dirigiu, provavelmente a melhor coisa foi o clipe minimalista para "I Just Don´t Know What What Do With Myself" do White Stripes, em grande parte graças a Kate Moss.

O "Encontros e Desencontros" acho bem superficial e um tanto quanto esnobe, na idéia em que ser retirado de sua cultura por alguns dias é um motivo para a alienação e melancolia. Eu entendo que esses sentimentos são mais profundos nos protagonistas que a influência do ambiente japonês, mas acho muito irritante a personagem da Scarlett Johansson observando Tóquio com um olhar vazio porque está entediada e afastada do ambiente pós-universitário estadunidense dela, ou porque o marido moderno é um workaholic. Um roteiro fraco (embora a direção seja boa) que pode ter cativado os anciões da Academia e boa parte dos meus amigos e amigas indies, mas que não me pega.

Qualquer trailer que consiga combinar "Age of Consent" do New Order com uma torrente de imagens legais, mesmo que seja um filme sobre digamos, baseball, já é capaz de atrair minha simpatia imediata, e foi exatamente o que rolou com o primeiro trailer de "Marie Antoinette" que eu vi. A idéia de um filme histórico com uma boa soundtrack sobre uma personagem controversa da história francesa, cujo o poster tem a tipografia do Nevermind the Bollocks me pareceu bacana, então esperei feliz pela chegada do filme ao Brasil.

Em Cannes, onde fez parte da seleção oficial, o filme foi vaiado e criticado pela idéia aparentemente estapafúrdia aos críticos franceses, costumeiramente afetados e tradicionalistas, de um filme de época com trilha pós-punk e que retrata a rainha demonizada pelos franceses como, no fim das contas, uma menina legal. Li comentários sobre o filme não tratar de nada especificamente, apenas mostrando a rainha se divertindo na corte. Bem, não é exatamente uma mentira, mas até ai, não é algo que distoa da realidade histórica. O filme sofre com os diálogos pobres, mas é bem dirigido, e os atores - em particular a Kirsten Dunst no papel principal, já que o roteiro não dá muita oportunidade de espaço para os demais personagens - se esforçaram.

De fato, as liberdades tomadas na direção e roteiro para conduzir o filme de uma maneira mais contemporânea, as vezes bebendo da linguagem dos videoclipes que a diretora conhece bem são interessantes, mas irrita o desespero em transmitir essa sensação de modernidade ao público- como na cena dispensável em que o All Star azul e surrado aparece em destaque entre os sapatos, gritando que a obra tem uma pegada punk e atual. É decepcionante ver essa insegurança da diretora poucos minutos depois de cenas ótimas, em que a união afiada de câmera ágil e música já haviam passado muito bem o recado.

Marie Antoinette, não é brilhante, reafirma a dificuldade da Sofia Coppola com os roteiros, mas tem uma direção competente e corajosa, além de uma abordagem menos maniqueísta para a personagem. A verdade é que só por começar com um "Natural´s Not In It" do Gang of Four fazendo barulho, já merece algum respeito.

3 comentários:

Alexei Fausto disse...

taí cara, falou muito bem.

Barba disse...

Tenho uma puta preguiça desse filme e seu comentário sobre o All Star não me encorajou muito a assisti-lo. Mas, nos dóis sabemos que é só uma questão de tempo até eu me render hehe

Otávio Rangel disse...

Mandou bem de cima a baixo Garrell... apesar d´eu ser um dos admiradores do Encontros e Desencontros.